Softwares Transcendem Fronteiras—Por Que o Dinheiro Não?

Angela Strange, Joe Schmidt, and Gabriel Vasquez

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Softwares são globais por natureza e transcendem fronteiras com facilidade—localizar um software pode significar simplesmente traduzi-lo para outro idioma. Quem é o Google do Brasil? É o Google. A globalização do dinheiro, no entanto, é um desafio muito maior.

Isso é especialmente válido para empresas globais, que lidam com diversas contas bancárias em diferentes moedas, taxas de câmbio obscuras e caras, transferências imprevisíveis, conciliações que demoram semanas e muito mais.

Além disso, muitas empresas globais de software monetizam serviços financeiros. Embora embutir serviços financeiros seja relativamente fácil em alguns países, uma empresa global de software que pretenda adicionar pagamentos, empréstimos ou algum outro serviço desse tipo em diversos países precisa administrar uma rede complexa de empresas de infraestrutura e regulamentações locais.

Esse é um problema persistente, que tem sido a motivação de muitas fintechs ambiciosas ao longo dos anos. Conforme a empresa do futuro se torna global, existe agora uma motivação real para a mudança. Assim, grandes empreendedores estão buscando uma infraestrutura entre fronteiras que seja mais fácil de usar e integrar—bem como soluções completas para seus próprios negócios.

A raiz do problema

Embora o dinheiro anteceda os softwares em 50 séculos, é muito mais difícil movimentá-lo pelo mundo. Por que esse tem sido um problema insolúvel há tanto tempo? Para compreender o “caráter local” persistente do dinheiro, ajuda analisar os fatores culturais, de infraestrutura e regulatórios inerentes que motivam as políticas monetárias.

As preferências relativas a pagamento são diferentes em cada país

No México, cerca de 90% da população ainda usa dinheiro vivo; no Brasil, mais de 75% dos consumidores usam Pix, o sistema de pagamento instantâneo do país; e no Quênia, 96% das famílias têm uma conta de moeda digital no celular, o sistema M-Pesa. Essas preferências às vezes têm motivações socioeconômicas (em países com PIB per capita menor, por exemplo, a penetração de cartões de crédito costuma ser muito baixa), mas também são afetadas pela presença local de sistemas de pagamento simples e gratuitos. No Brasil, por exemplo, o Pix se tornou o método de pagamento mais popular do país em apenas dois anos—e o segundo sistema de pagamento instantâneo mais popular do mundo. O Reino Unido tem um sistema de pagamento em tempo real desde 2005, com a rede Faster Payments. Hoje, os consumidores do Reino Unido utilizam pagamento por aproximação em quase 90% das transações presenciais.

Os sistemas de pagamento são diferentes em cada país

Sistemas de pagamento são a infraestrutura essencial que possibilita a movimentação de dinheiro. Embora existam hoje sistemas globais na forma de transferências ou redes de cartões (como Visa ou Mastercard), nenhuma dessas soluções oferece 100% de cobertura em todo o mundo. Além disso, uma empresa de software que queira vender seu produto globalmente precisa integrar vários métodos de pagamento; se o método de pagamento local preferido de um possível cliente não for compatível, a empresa corre o risco de perder vendas. Hoje, esse sistema de pagamento complexo e interconectado funciona de forma semelhante ao setor aéreo: as companhias aéreas podem oferecer voos internacionais, mas não conseguem abranger todos os destinos e rotas possíveis, necessitando de companhias aéreas locais específicas de cada país ou região. Muito parecido com os sistemas de pagamento locais, a conexão usando diferentes companhias aéreas é um incômodo. Assim, para que viagens internacionais fiquem mais fáceis e mais integradas, as companhias aéreas criaram três grandes alianças aéreas. Agora, países de diferentes regiões estão começando a fazer o mesmo para pagamentos.

As regulamentações são diferentes em cada país

Cada país tem suas próprias agências reguladoras e exigências quanto às licenças que uma empresa precisa ter para enviar, receber ou guardar dinheiro. Alguns países têm regulamentações obscuras, aparentemente criadas para impedir a entrada de novos concorrentes, enquanto outros colocam em prática políticas progressistas e se esforçam para atrair novas empresas, como vimos no Brasil e no Reino Unido. Empresas que querem ajudar consumidores ou negócios a enviarem e/ou receberem dinheiro entre fronteiras precisam obter uma licença (ou encontrar um parceiro que lhes empreste sua licença) tanto nos países remetentes como nos destinatários, um processo que tem sido, historicamente, um grande obstáculo à inovação das fintechs. Além disso, compliance, exigências relativas a capital, governança e armazenamento de dados são todos fatores específicos de cada país e que requerem considerável conhecimento local.

As oportunidades:
Infraestrutura global para fintechs

A movimentação financeira entre fronteiras é uma complicação, mas o aumento da demanda por melhores experiências por parte de consumidores e empresas está atraindo grandes empreendedores para resolver esses problemas. Aqui encontramos muitas áreas de oportunidade:

Sistemas envolvendo vários países

Continua sendo um desafio movimentar dinheiro entre uma única fronteira. Muitas vezes, as empresas precisam esperar dias pela liberação de um pagamento, sem saber a taxa de câmbio exata. A movimentação financeira entre vários países potencializa esse problema. Diversas empresas já se integraram a uma série de sistemas locais para ajudar a coordenar essa movimentação, mas ainda existem oportunidades para novos players criarem experiências fluidas e transparentes de movimentação financeira entre países.

Infraestrutura moderna de pagamento embutida

As empresas buscam cada vez mais monetizar serviços financeiros, mas em muitas regiões geográficas ainda é difícil encontrar parceiros modernos de emissão de cartões ou aceitação de pagamentos white label. Além disso, empresas globais de software são frequentemente obrigadas a fazer parcerias com diversos fornecedores de infraestrutura diferentes para abranger as regiões geográficas necessárias, um processo complexo, que exige a manutenção de muitos fornecedores.

Sistema bancário sem fronteiras para empresas

Negócios que operam em diversos países costumam abrir várias contas bancárias por país—bancos correspondentes para facilitar transferências internacionais, bancos locais para se beneficiar dos melhores serviços bancários locais, contas de investimento ou do tesouro nacional, entre muitas outras. Esse processo é lento, dificulta a visibilidade do dinheiro na empresa, incorre em despesas elevadas quando se movimenta dinheiro (até dentro da mesma empresa) e complica a conciliação mensal. A crescente prevalência do open banking em muitos países proporciona às novas empresas a oportunidade de criar uma camada de aplicativo que ofereça visibilidade para contas em diversos países, além de outros serviços.

Compliance global

A conformidade regulatória com as práticas de Know Your Customer (KYC), ou seja, conheça seu cliente, ou Know Your Business (KYB)—conheça seu negócio—em um único país muitas vezes é complicada. Exige não só a integração de fontes de dados corretas, mas também a criação de um processo que pareça simples para o cliente, satisfazendo, ao mesmo tempo, todos os requisitos de compliance. Com a exceção da integração do cliente, a conformidade com as regulamentações locais relativas a aspectos como armazenamento de dados ou relatórios pode ser um desafio, principalmente quando se opera em diferentes países. Embora nos EUA existam empresas “como serviço” de alto nível que resolvem esse problema, no âmbito global, esses desafios continuam sem solução, principalmente para empresas. Existe potencial para reduzir essa complexidade com softwares.

Fraude

A chegada do pagamento em tempo real em muitos países resolverá alguns atrasos frustrantes. Mas isso amplifica outro problema: a fraude. À medida que ferramentas de inteligência artificial generativa se tornam mais difundidas, o custo para fraudadores da reprodução de conteúdo malicioso cai para quase zero:  eles conseguem escrever e testar milhares de e-mails de phishing em minutos e ajustar continuamente aqueles que funcionam melhor. Nesse novo cenário, soluções eficazes contra fraude para pagamentos entre fronteiras serão cada vez mais importantes.

Por todos esses motivos, existem enormes oportunidades de desenvolvimento de softwares que tornem a movimentação financeira entre fronteiras fluida e transparente—e de tornar esses serviços confiáveis e seguros.

Está desenvolvendo software nessas áreas? Gostaríamos muito de falar com você.  Consulte a16z.com/global-payments para mais informações. 

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